Na véspera da morte de João Paulo II, numa conferência no convento de Santa Escolástica em Subiaco, o então cardeal Ratzinger endereçou aos secularistas uma proposta que considerou irrecusável. Essa proposta tem sido frequente e insistentemente reiterada por Bento XVI como sendo a unica coisa racional a fazer para “salvar” a Europa: aceitar que tanto na esfera privada como na esfera publica (isto é, na discussão e promulgação das leis do Estado) , todos, católicos e não católicos, devem agir «veluti si Deus daretur» – como se Deus [o do catolicismo, claro] existisse.
A visita papal só teve como novidade a modificação do discurso de vitimização em relação aos casos de abuso sexual de crianças por membros da Igreja e o reconhecimento de que as tribulações por que passa a Igreja são causadas por «pecados» internos e não por inimigos externos. Todas as intervenções do Papa foram marcadas pela habitual rejeição de um mundo moderno que se recusa a aceitar as suas propostas e a viver «veluti si Deus daretur». Também habituais foram as constantes exortações de Bento XVI aos crentes para que resolvam esta «crise da verdade». Tudo somado, não me parece que, assente a espuma mediática dos dias, esta visita deixe marca.
(Palmira F. Silva, Diário de NotÃcias online, 14 de Maio de 2010)