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Entre a Democracia e o Islão, a Turquia continua a procurar caminhos…

Aqui fica um muito interessante depoimento de alguém que conhece de perto o que lá se passa.

TURQUIA, A INCOMPREENDIDA

Acredito que os momentos que a Turquia está a viver no momento são muito, muito importantes para a evolução da democracia Turca, desde que, o exército não se sinta obrigado a intervir (o que fez até agora foi apenas palavras vagas, que na minha opinião não deveria ter feito, mas que na visão de muitos turcos são mesmo necessárias).

O actual governo, apesar de democraticamente eleito teve apenas 34.27% dos votos mas tem quase dois terços dos deputados do parlamento, devido a um sistema eleitoral ridículo que tinha sido criado exactamente para evitar que partidos islâmicos chegassem ao parlamento (todos os partidos com menos de 10% dos votos são excluídos do parlamento).

Ora esse mesmo partido, quer à força eleger um presidente não laico, quando tal não lhe vai ser possível, devido a não ter negociado com o único outro partido do parlamento que lhe poderia garantir isso, pois precisa de ter quorum nas votações e os seus deputados não chegam para tal (o processo já seguiu para o Tribunal Constitucional), o que conduzirá provavelmente à dissolução do parlamento e a eleições antecipadas (os deputados do outro grande partido recusam-se a estar presentes nas votações). Os relatos que têm chegado a público é que os islamitas têm oferecido dinheiro (sim, dinheiro) para que os deputados da oposição estejam presentes na votação, por forma a que possam eleger um presidente contra a vontade da sua população.


É também verdade que a própria eleição do presidente é anti-democrática na Turquia, pois depende do parlamento e caso este fosse eleito não representaria nem pouco mais ou menos mais de 50% da população turca como nos habituámos a esperar no nosso país. A manifestação de hoje em Istambul (retratada numa vista aérea na imagem à esquerda) teve mais 1,5 milhões de pessoas (numa população de 10 milhões), o que se fosse em Portugal, correspondia a ter 300.000 pessoas no centro de Lisboa (será que tivemos tanta gente no 25 de Abril nas ruas de Lisboa?). Ou seja, a manifestação actual, é claramente uma lição de democracia e de como o povo Turco ama a liberdade e está a tentar por via pacífica convencer o governo a reconsiderar a eleição de outro presidente, mais representativo da população.

Obviamente, que o que eu espero que venha acontecer na Turquia, é que os partidos não religiosos se coliguem, em vez dos 9 grandes partidos actuais, por forma a conseguiram passar a fasquia dos 10% e entrar no parlamento, colocando assim o AKP no seu devido lugar e alterando a lei eleitoral para que a situação actual não se volte a repetir. Caso o actual parlamento não seja dissolvido pelo Tribunal Constitucional, o que obrigaria a eleições já em Agosto, estas serão de qualquer maneira em Novembro.

Mas tudo isto faz parte do jogo democrático e da evolução democrática de um país. País esse que ainda não está preparado para a União Europeia, mas que necessita da União Europeia para continuar a evoluir e estabilizar a sua democracia, tal como Portugal precisou.

Nota: Dado ter uma Turca como parceira, a minha visão é obviamente parcial e influenciada por ela. 😉

acesso a: documento original / doc/R&L (pdf)