Mausoléu de Manuel Buiça e Alfredo Costa

MAUSOLÉU DE MANUEL BUÍÇA E ALFREDO COSTA NO CEMITÉRIO DO ALTO DE S. JOÃO

 

Manuel dos Reis Buíça e Alfredo Luis da Costa, os dois executores do atentado que vitimou o Rei Carlos I e o Príncipe Luis Filipe, eram membros activos da Associação do Registo Civil e do Livre Pensamento, uma agremiação de forte activismo pró-republicano.

Perante a morte daqueles seus associados no decurso do acto revolucionário que perpetraram contra a monarquia, a Associação do Registo Civil e do Livre Pensamento apressou-se a fazer chegar ao director da Morgue de Lisboa um requerimento a solicitar que os seus corpos lhe fossem facultados a fim de lhes poder proporcionar enterro condigno.

Não curando daquela solicitação, os corpos dos dois regicidas foram entretanto sepultados num coval do Cemitério Oriental de Lisboa (hoje Alto de S.João).

Perante esse facto, em reunião tida a 13 de Fevereiro, a Associação do Registo Civil deliberou protestar junto de quem tinha tomado a decisão de ignorar o seu pedido e decidiu convocar para 17 de Fevereiro uma primeira romagem ao local onde tinham sido enterrados os seus associados Buíça e Costa.

Essa romagem teve lugar a 17 de Fevereiro, quatro dias depois de se assentar na sua realização, tendo conseguido juntar uma imensa multidão estimada em largas dezenas de milhares de pessoas.


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Aspecto da romagem de 17 de Fevereiro de 1908 («clique» na imagem para aumentar)

O poeta José Gomes Ferreira, então criança, deixou-nos as seguintes memórias dessa jornada de combate republicano em que então participou, na companhia do seu pai, Alexandre Ferreira:

“Agradeço a meu pai a coragem com que, no momento do funeral do Rei, me levou a visitar os covais dos regicidas no Alto de S. João. Amo os mortos malditos e escorraçados” (in: “Calçada de Sol”)

“Recordo-me também que senti muita pena dos regicidas… Pena de estarem mortos e sozinhos… E cada vez mais sozinhos, apesar da enorme multidão que acorreu ao cemitério em romagem aos regicidas – que éramos nós todos” (in: “Dias Comuns II”)

Implantada a República, as romagens aos covais de Manuel dos Reis Buíça e de Alfredo Luis da Costa continuaram a mobilizar muito povo.


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Aspectos da romagem de Fevereiro de 1911 («clique» nas imagens para aumentar)

A 4 de Fevereiro de 1914, a Associação do Registo Civil e do Livre Pensamento entregou ao Município de Lisboa, um pedido “para lhe ser cedido o espaço com 1,30 de comprimento e 2,20 de altura no cruzamento da Rua 9 com a Rua 26 do Cemitério Oriental (actual Cemitério do Alto de S. João), para ali ser edificado um monumento aos seus associados, Manuel dos Reis Buíça e Alfredo Luís Costa”, requerimento esse que foi, quase de imediato (5 de Fevereiro), deferido.

Construído o mausoléu obra da autoria do escultor Júlio Vaz as ossadas de Manuel Buíça e Alfredo Costa foram transladadas dos covões (números 6.044 e 6.045) onde os cadáveres tinham sido depositados em 1908 para a Rua 9 (nº 4.251).


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Mausoléu de Manuel dos Reis Buíça e Alfredo Luis da Costa («clique» na imagem para aumentar)

texto da placa:

“Alfredo Luis da Costa e Manuel dos Reis Buiça, Libertadores da Pátria Portuguesa;1 de Fevereiro de 1908; Associação do Registo Civil”

 

Instaurada a Ditadura do Estado Novo, apesar da forte repressão do regime sobre as movimentações populares de inspiração republicana, anualmente, a 1 de Fevereiro, continuaram a realizar-se grandes romagens populares ao mausoléu de Manuel Buíça e Alfredo Costa.

Em 1938, contudo, a Associação do registo Civil e do Livre Pensamento foi administrativamente encerrada e extinta pelas autoridades que, então, amordaçavam o país.

Em 1940, o Diário Municipal (nº 1395, de 8 de Fevereiro) publicou uma decisão camarária visando transferir o jazigo de Buiça e Costa para outro local. Os fundamentos invocados para justificar a transferência do mausoléu constam do ofício nº 151 da 2ª Repartição de Higiene Urbana (publicado no Diário Municipal nº 1398, de 12 de Fevereiro de 1940) onde se alega estar aquele a “prejudicar grandemente o trânsito”…

Em consequência dessa decisão, foram as ossadas transferidas para a Rua 52, J.P. 4251 e os elementos que constituíam o mausoléu (conforme ofício nº 238 da Administração do 1º cemitério, datado de 26 de Abril de 1940) terão sido colocados no depósito de materiais do cemitério.

 

Presentemente, para assinalar o centésimo aniversário da data da sua morte, um grupo de cidadãos republicanos está a requerer à C.M. de Lisboa a reposição do monumento cuja construção tinha sido promovida, em 1914, pela Associação do Registo Civil e do Livre Pensamento no cemitério do Alto de S. João.

acesso a cópia do requerimento apresentado à C.M. de Lisboa: doc/R&L (pdf)

Também está prevista, para quinta-feira, 31 de Janeiro, a realização de uma romagem às campas de Manuel Buíça e Alfredo Costa

ver notícia da Lusa: doc/R&L (pdf)