Transcreve-se aqui a reflexão oportuna que Carlos Esperança publicou no «Diário AteÃsta».
A laicidade do Estado é condição indispensável à existência da democracia. Sem total respeito por todas as crenças, não-crenças e anti-crenças, numa absoluta neutralidade confessional, é impossÃvel assegurar a paz religiosa e neutralizar os Ãmpetos prosélitos dos crentes mais exaltados.
As teocracias islâmicas, no desespero do ocaso de uma civilização falhada, perturbam a estabilidade mundial e são um perigo para a paz que alguns lÃderes ocidentais agravam.
O fascismo islâmico, longe de constituir a vacina que se impunha quanto à separação sanitária entre o Estado e a Igreja, deu origem a um estranho mimetismo que conduziu à infiltração de regimes ocidentais por um agressivo clericalismo de contornos nebulosos.
O boato e as campanhas pagas, ou ingénuas, servidas por uma multidão de beatos, têm criado as condições propÃcias para o avanço do clericalismo. O exemplo mais boçal foi a invenção de que a comemoração do Natal estava em perigo quando o unico risco é o da sua obrigatoriedade.
Poucos sabem que a imaginária guerra ao Natal foi inventada nos EUA, há pouco mais de um ano, pelos comentadores da cadeia extremista FOX, que distorceram a realidade e inventaram pretensas ofensas dos «humanistas» aos rectos cristãos americanos. O que, então, fracassou nos EUA teve êxito, um ano depois, na Europa.
A cruzada para introduzir referências confessionais na Constituição Europeia foi um treino para novas ofensivas que culminaram na contestação da Conferência Episcopal Espanhola à legislação sobre famÃlia e ensino do Governo Zapatero, à exigência clerical de várias confissões para o assalto ao ensino privado e, recentemente, na mobilização das hostes católicas, em Portugal, na luta contra a descriminalização da IVG.
Não há anticlericalismo sem clericalismo, nem liberdade sem laicidade. A teocracia é a mais grotesca negação da democracia. Os europeus parecem ter esquecido as guerras da Reforma e da Contra-Reforma e nada terem aprendido com a desintegração recente da Jugoslávia.
Carlos Esperança